Caro(a) amigo (a)
O Eurostat acabou de publicar dados sobre a repartição dos rendimentos em
Portugal. Esses revelam que em 2005, 1º ano de governo de Sócrates, que
neste ano em Portugal os 20% da população com rendimentos mais elevados
receberam 8,2 vezes mais rendimentos do que os 20% com rendimentos mais
baixos, enquanto a média na UE25 é de 4,9 vezes, e que, entre 2004 e 2005,
este racio agravou-se em Portugal 13,8% , pois passou de 7,2 para 8,2,
enquanto na UE25 aumentou 2% , pois passou de 4,8 para 4,9.
Neste estudo também analisamos algumas das consequencias mais importantes
para os futuros reformados do projecto de lei que o governo pretende aprovar
sobre as pensões de invalidez e velhice.
Espero que este estudo lhe possa ser útil.
Com consideração
Eugénio Rosa
Economista
NOTA: Depois de ter escrito e enviado o estudo com o titulo "A MENTIRA E A
MANIPULAÇÃO COMO INSTRUMENTOS DE CONDICIONAMENTO DA OPINIÃO PUBLICA PELOS
MEDIA E A CARTA QUE O EXPRESSO NÃO PUBLICOU", Manuel Esteves (ME) autor de
uma das peças jornalísticas que eu analisei telefonou-me e enviou-me um
e.mail protestando, "zangado", contra o meu escrito. E enviou-me dois
artigos que publicara dizendo o mesmo, um no DN de 28 de Novembro de 2006 e,
outro, em 12 de Fevereiro de 2007, este útimo a que eu me referia no meu
estudo, dizendo que os dados que tinha utilizado eram os da AMECO, que é uma
base de dados , a meu ver, porque credível da União Europeia. O que eu
critiquei, e continuo a criticar, no artigo ME é aquilo a que chamo falta de
objectividade e mesmo erros de natureza técnica que levam, objectivamente, o
leitor ao engano.
Em primeiro lugar, a falta de objectividade do artigo. A AMECO utiliza dados
que selecciona de acordo com critérios muito próprios e utiliza, a ver, uma
metodologia pouca conhecida e pouco consistente. A prová-lo está a
disparidade dos resultados. Em relação a 2005, o ano referido por ME no seu
artigo, o Eurostat, que é o serviço de estatística oficial da União Europeia
e não a AMECO, obteve o valor de 47,4% para "Remunerações/ PIB", e o Banco
de Portugal para "Remunerações/PIB" 51%. Segundo o que consta do artigo de
ME que eu analisei, " os salários em Portugal receberam 62,5% do PIB". E
como se sabe nas "remunerações" estão incluídas as contribuições sociais
patronais, que incluem os descontos para a Segurança Social e CGA assim como
as espécie, enquanto nos "salários" não estão. ME na mensagem que me enviou
já diz que afinal são as "remunerações" e não os "salários". E a diferença
não é de somenos importância, pois corresponde a um erro de 10 pontos
percentuais do PIB., ou seja, a cerca de 15.700 milhões de euros de
diferença. Se analisarmos o artigo que ele publicou em 28 de Novembro de
2006 com o publicado em 12 de Fevereiro conclui-se que o erro existe nos
dois, o que revela falta de rigor, o que não deixa de ser criticável. Embora
aceite que todos podemos cometer erros, pelo menos o que devia ter feito já
seria informar os leitores deste erro importante.
Em segundo lugar, e esta é uma critica de fundo que faço ao artigo de ME é a
falta de objectividade jornalística tal como a entendo. Perante uma
disparidade tão grande, que o surpreendeu pois diz que confrontou "vários
especialistas", e sabendo que tanto o Eurostat como o Banco de Portugal
divulgaram valores muito diferentes, a objectividade jornalística obrigava
ME a dar a conhecer aos leitores, incluindo-os na sua peça, os dados do
Eurostat e do Banco de Portugal. Mas não o fez. E não pode dizer que
desconhecia esses dados porque eles são públicos e estão disponíveis há
muito tempo. Eu próprio num estudo que publiquei em 4.2.2007, portanto antes
de ME ter publicado o seu 2º artigo, e que divulguei da mesma forma que o
estudo que ME já leu, inclui esses dados. Mesmo assim não os considerou.
Para além disso, do 1º artigo para o 2º artigo desaparece a referencia à
AMECO e aparece no 2º artigo apenas o da Comissão Europeia, que é uma
entidade mais credível. É por tudo isto que escrevi o que escrevi, que
pretende apenas alertar para a necessidade de rigor e de objectividade a
nível dos media. Os media quando não adoptam tal atitude acabam muitas
vezes, objectivamente (não estou a analisar nem de intenções nem o aspecto
subjectivo dos jornalistas autores), por gerar enganos nos leitores.
ME enviou-me os dois artigos que publicou no DN pedindo que os divulgasse.
Embora pense que eles não esclarecem as questões fundamentais pois, por um
lado, nenhum deles inclui os dados do Banco de Portugal nem do Eurostat;
por outro lado, não esclarece a metodologia utilizada pela AMECO para chegar
ao único valor que ME divulgou no seu artigo; e, finalmente, em ambos
artigos ME comete o mesmo erro importante que foi confundir "salários" com
"remunerações", mesmo assim fiz uma proposta a ME que ainda não recebeu
qualquer resposta: eu comprometia-me a divulgar os seus dois artigos, se ele
me assegurasse a publicação no DN-Economia de um pequeno artigo meu
esclarecendo os leitores que os 62,5% não correspondem ao peso dos salários
no PIB em Portugal, corrigindo o eventual engano que os artigos de ME
eventualmente causaram nos leitores. É evidente que nesse artigo não
criticaria ME. Continuo à espera da sua resposta.
Finalmente, quero dizer que o objectivo do meu estudo não foi denegrir nem
atacar o trabalho de Manuel Esteves que, em outras peças, tem revelado
rigor, mas sim contribuir para uma informação jornalística muito mais
rigorosa, objectiva e independente. E isso passa também pela posição critica
dos leitores que assumo. Embora não seja nem queira ser jornalista (sempre
assumi com orgulho a posição de economista defensor dos trabalhadores), dou
muita importância à comunicação social e aos profissionais que nela
trabalham. A provar estão os dois mestrados de comunicação que tenho.